Cultivo conservacionista provoca o mínimo de revolvimento do solo, diminui o uso de máquinas no campo e reduz o surgimento de erosão
A neutralização das emissões de gases nocivos ao planeta é um dos principais temas discutidos na 26ª Conferência do Clima (COP26), que começou no dia 31 de outubro e segue até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia. Neste assunto, o agronegócio tem papel fundamental para contribuir com a desaceleração das mudanças climáticas no mundo, utilizando de práticas sustentáveis que auxiliam no sequestro do carbono da atmosfera e aumenta a produtividade sem necessidade de ampliar a cultivada.
Sobre a emissão e sequestro de carbono, o agronegócio brasileiro e principalmente o mato-grossense tem como grande trunfo o Sistema de Plantio Direto (SPD), uma prática conservacionista de cultivo e manejo do solo que proporciona benefícios técnicos, econômicos e ambientais, pois a prática sequestra carbono em quantidade considerável. De acordo com a Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto (Febrapdp), o sistema é utilizado em 36 milhões de hectares no país, e pode sequestrar até 56 milhões de toneladas de CO2.
De acordo com o pesquisador na área de solos e sistema de produção da Fundação Mato Grosso, Felipe Bertol, esse sistema traz inúmeros benefícios para a produtividade na agricultura, além de contribuir com a conservação ambiental. Segundo ele, a manutenção da palhagem no solo contribui também para mitigar o surgimento de erosão e o simples fato de não revolver o solo já diminui a emissão de carbono na superfície.
“Se não fosse o plantio direto praticado pelo agronegócio em Mato Grosso e no Brasil, a emissão de carbono poderia ser até quatro vezes maior do que é hoje, esse sistema impacta também nas questões hídricas, pois apesar de estarmos passando por uma crise hídirca, se não houvesse esse sistema que adotamos hoje, as recargas de água nos mananciais não seriam tão altas e a falta de água seria ainda mais frequente e mais severa”, explica.
De acordo com estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a área plantada de algodão no Estado este ano foi de 942,4 mil hectares, e a previsão é que a safra atual atinja 1,6 milhão de toneladas. O cultivo do algodão é feito em sua maioria no sistema de plantio direto, o que segundo o diretor-executivo do Instituto Mato-grossense do Algodão ImaMT, Alvaro Salles, é um dos fatores que contribuem para o sequestro de carbono e evita a queima de combustível das máquinas no campo.
“Isso porque no plantio direto, a semeadura é feita no solo não revolvido, sem prévia aração ou gradagem, o que retira dos campos as máquinas e por tanto não há tanto consumo de combustível. Quase que 100% dos produtores de algodão no Estado praticam esse sistema, o cultivo do algodão em específico, por ocorrer em um período considerado longo, contribui para o sequestro de carbono do ar”, pontua.
Ainda segundo Salles, os produtores recobrem o solo com gramíneas como preparação para o plantio do algodão. “Com o crescimento dessa vegetação já ocorre o sequestro de carbono e aumenta a quantidade de matéria orgânica no solo. Além de evitar erosões no solo, esse sistema ajuda a controlar o surgimento de ervas daninhas, o que consequentemente diminui a quantidade de agroquímico aplicada na produção”, acrescenta.
O presidente do Fórum Agro MT, Itamar Canossa, destaca os avanços conquistados pelo agronegócio, inclusive com o aumento da tecnologia empregada no campo, além de investimentos em técnicas de cultivo conservacionista, que promovem diversos benefícios aos produtores e ao meio ambiente. “Isso mostra que o agronegócio também está trabalhando com objetivo de impactar cada vez menos no meio ambiente. São soluções que beneficiam não só a produção de alimento no país, mas como também busca meios de se tornar cada vez mais sustentável e contribuir para diminuir as mudanças climáticas”.
Programa Carbono Neutro
Além da presença de centenas de líderes de Estado, entidades do agronegócio, organizações da sociedade civil, grandes empresas e cientistas marcarão presença nas mesas de negociação da COP26 para apresentarem suas considerações próprias.
Na ocasião, o governo de Mato Grosso apresentou o programa Carbono Neutro MT, que tem como meta neutralizar a emissão de carbono das atividades econômicas do Estado até 2035, 15 anos antes da meta global.
O programa é alicerçado em 12 pilares, já colocados em ação: a manutenção do ativo florestal do Estado, manejo florestal sustentável, regularização fundiária, melhorias na gestão de áreas protegidas, reflorestamentos comerciais, restauração de florestas, redução do risco de incêndios, manejo sustentável para a produção agropecuária, proteção de vegetação secundária em áreas de desmatamento legal, recuperação de pastagens, integração lavoura-pecuária-floresta, e produção e consumo de biocombustíveis.
Fórum Agro MT
Criado em 2014 com o objetivo de fomentar o desenvolvimento do agronegócio de Mato Grosso, para buscar soluções, o fortalecimento e o crescimento do segmento no Estado. Tem como objetivo harmonizar as atividades das entidades participantes com as principais demandas do momento e ainda fortalecer o poder de representação do setor e estimular políticas públicas para o desenvolvimento da agropecuária.
É formado pela Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), Acrismat (Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso), Ampa (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão), Aprosmat (Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso) e Famato (Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso).