De acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de 2018, mulheres ocupavam 34% dos cargos gerenciais no agronegócio no Brasil
Responsável por mais de 26% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020, de acordo com cálculos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em parceria com a CNA, o agronegócio já provou e comprovou ser um dos setores mais importantes para a economia do país. No segmento de muitas possibilidades é natural que tenha atenção de profissionais que queiram seguir carreira na área, natural o crescimento da participação das mulheres, que cada vez mais preparadas conquistam parcela significativa no setor.
No Censo Agropecuário do IBGE de 2017 foi possível identificar que 947 mil mulheres estão no comando de propriedades rurais no Brasil, em um universo de 5,07 milhões de pessoas. E de acordo com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas realizada em 2018, as mulheres ocupavam 34% dos cargos gerenciais no agronegócio no Brasil, um salto considerável comparado há algumas décadas.
Um bom exemplo do que foi apurado pelo Censo vem do município de Cáceres (MT), onde a produtora rural Ida Beatriz Machado de Miranda Sá, 54, é a responsável pela gestão da Fazenda Nossa Senhora do Machadinho, que pertence à família há quatro gerações. Com foco no planejamento e na profissionalização das atividades praticadas na fazenda, Beatriz conta que aposta também na implantação de novas tecnologias e na sustentabilidade para tirar o melhor aproveitamento dos mais de 3,6 mil hectares da propriedade.
Beatriz cresceu na fazenda, tendo contato desde muito cedo com a vida no campo, mas foi estudar fora. Se formou em administração rural, em Lavras (MG). Em 2013 decidiu voltar para a propriedade e trabalhar ao lado da família, mas somente em 2016, após o falecimento do pai no ano anterior, recebeu a missão de tocar a propriedade.
“Aceitar tocar a fazenda foi uma das decisões mais sábias em minha vida. Quando aconteceu ficamos receosos, foi aquela dúvida, ‘e aí, vamos ou não vamos?’. A agropecuária é uma atividade muito complicada, é uma fábrica a céu aberto e que é muito dependente de fatores climáticos. Sem um bom planejamento, uma boa gestão e pessoas preparadas com um único objetivo, seria muito difícil fazer dar certo”, observa.
De acordo com a produtora, logo que assumiu a propriedade o primeiro passo foi levantar os principais gargalos. Ao fazer a análise foi constatado o mau uso do pasto, problemas nas instalações e principalmente problemas de questões hídricas, fundamental para qualquer atividade que envolva criação ou produção no agronegócio.
Foi então que em 2020 a gestão realizou o “Projeto Água”, e além da criação de um grande reservatório instalou 25 bebedouros espalhados na propriedade para suprir as necessidades do rebanho de aproximadamente 1.300 animais. “Tudo isso foi possível com muito planejamento, com tudo na ponta do lápis, todas as variáveis e cumprir com o que foi planejado”, explica.
Com um olhar cuidadoso e com uma postura que atenda às exigências do mundo em relação a preservação ambiental e a produção rural sustentável, a gestora conta que sempre apostou na implantação de novas tecnologias que aumentem a eficiência da produção sem que haja impacto ambiental na região, além da preocupação com o bem-estar dos animais.
“Acredito que esse olhar mais atencioso para atender as normas ambientais e o cuidado com os nossos animais fazem parte das características femininas e isso foi fundamental para que tomássemos algumas decisões neste sentido. Acreditamos no projeto Fazenda Pantaneira Sustentável em parceria com a Famato, Acrimat, Senar/MT, Imea e Embrapa Pantanal, e ainda o programa de produção sustentável de bezerros, que tem como objetivo garantir maior sustentabilidade na cadeia na região”, pontua.
Segundo dados do Cepea/Esalq-USP, entre 2004 e 2015, o percentual de mulheres que trabalhavam no agronegócio nacional – nos setores de insumos, agropecuária, agroindústria e agrosserviços – aumentou, de 24,1% para 28% do total. Em nível global, a representatividade é maior. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), elas representam 43% da força de trabalho rural.
Representante de cinco entidades ligadas ao agronegócio em Mato Grosso, o Fórum Agro MT destaca o crescimento da participação das mulheres nas atividades e a importância da contribuição delas para o desenvolvimento do agro. “Segundo dados do IBGE, atualmente as mulheres são responsáveis pela gestão de 30 milhões de hectares de propriedades rurais no país e entre as principais características delas estão a preparação, estudos e conhecimento na parte teórica que elas trazem para aplicar da porteira para dentro. E sabemos que a participação das mulheres aumentou não só na gestão das fazendas, mas também nos setores que se relacionam diretamente com o agro”, destaca o presidente do Fórum Agro MT, Itamar Canossa.